sexta-feira, 21 de agosto de 2009

IEL apresenta palestras de professores de escola de negócios para empresários e acadêmicos

A cada dia mais empresas norte-americanas estão usando as redes sociais da internet como ferramenta de negócios: para identificar do que gostam e do que não gostam os clientes, prospectar nichos de mercado, sondar a receptividade para algum produto novo a ser lançado, coletar informações sobre candidatos a colaboradores e várias outras aplicações.

“O papel que teve a internet na eleição de Barack Obama mudou a postura das empresas com relação às mídias sociais. Se há seis meses essas mídias eram vistas como coisas de adolescentes, hoje proliferam as experiências relacionadas ao uso das redes sociais nos negócios, sobretudo entre as pequenas e médias empresas”, disse o professor do Insead, Soumitra Dutta, em um café da manhã promovido pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), na última no dia 11/8, em São Paulo, para cerca de cem altos executivos e acadêmicos convidados.

O encontro foi aberto pelo superintendente do IEL, Carlos Cavalcante, que destacou que a iniciativa faz parte da própria razão de ser do IEL que é promover a interação universidade-empresa e a capacitação empresarial. "Os dez anos de parceria com o Insead contribuíram para trazer a visão internacional de negócios para os executivos brasileiros, com programas adaptados à nossa realidade e necessidades. Queremos dar continuidade a isso com mais palestras e trazendo as publicações do Insead para o Brasil”, disse ele.

Além de Dutta, o evento contou com palestra de Lourdes Casanova, professora do Insead especializada no estudo do perfil das empresas de países latino-americanas que se tornaram multinacionais a partir dos anos 90. As palestras foram seguidas de debates. O Insead é uma das mais renomadas escolas de negócios do mundo, com a qual o IEL desenvolve cursos de capacitação para altos executivos.

Membro do Fórum Econômico Mundial e tido como uma das maiores autoridades mundiais em estratégias de uso de Tecnologias da Informação (TI) como ferramenta de desenvolvimento, Dutta pesquisa há três anos como governos e empresas encaram as redes sociais.

“Ainda existe muito medo relacionado às possibilidades de relacionamento mais horizontal, fluido e dinâmico abertos pelas redes sociais”, disse. Ele lembra que o governo britânico demitiu funcionários por acessarem sites de relacionamento no local de trabalho e que a Coca-Cola tentou proibir uma página da Internet sobre o produto, lançada por fãs, diante da impossibilidade de controlar seu conteúdo. Entretanto, como essa página é a segunda mais visitada do Facebook, a empresa entrou em acordo com seus criadores para uma gestão conjunta.

Segundo ele, as empresas ainda vêem como ameaça a quebra de hierarquias que a Internet 2.0 promove e não encaram as novas possibilidades que isso abre, mas essa é uma realidade que tende a se alterar rapidamente. Ele lembra que em 2004, quando a IBM decidiu revisar seus valores corporativos, parte da empresa quis fazê-lo por meio dos tradicionais grupos focais, enquanto outra parte propôs um debate aberto usando as novas mídias. “Ainda existe medo de tornar públicas as críticas, mas os modelos de negócio 2.0 que encorajam a colaboração horizontal possibilitam o uso da inteligência coletiva para aumentar a produtividade, incentivar a inovação e criar valor agregado. As novas mídias vão revolucionar a cultura empresarial”.

Dutta identifica nessa nova postura das companhias norte-americanas que começam a usar as redes sociais como ferramenta de negócios uma tendência que deve se tornar global. “As redes sociais são ferramentas poderosas que estão mudando o mundo dos negócios, da política e a sociedade em geral porque conferem uma transparência inédita às informações”. Com isso, segundo ele, as competências reais tendem a ganhar protagonismo com relação aos símbolos tradicionais de status; o poder tende a ser mais difuso e as identidades menos coletivas, mais singulares e desagregadas, o que tende a mudar a forma como as companhias se relacionam tanto com colaboradores como com clientes.

“São mudanças importantes às quais as empresas têm de se adaptar”, disse Dutta, lembrando que muitas indústrias farmacêuticas, acostumadas ao marketing baseado na publicidade e no patrocínio da participação de médicos em congressos internacionais estão sendo surpreendidas pela grande repercussão de sites e blogs feitos por doentes e familiares que se manifestam contra ou a favor de seus medicamentos.

O uso de redes sociais como ferramentas de negócios não deve tardar a chegar ao Brasil. Afinal, aqui, cerca de 80% da população que tem acesso à Internet participa de alguma comunidade virtual, a área de tecnologia da informação está entre as mais avançadas do mundo e as inovações na área de gestão não são raras..

O perfil inovador das empresas latino-americanas foi o foco da palestra de Lourdes Casanova, que há mais de uma década estuda como diversas empresas do continente lograram se internacionalizar, muitas delas pressionadas pelo acirramento da concorrência decorrente da abertura econômica dos anos 90. Embora entre 1980 e 2008, o número de latino-americanos que vivem com menos de dois dólares ao dia tenha aumentado de 136 milhões para 182 milhões e o número de empresas do continente que figuram entre as 500 maiores do mundo tenha passado de 14 para 10 entre 1995 e 2008, ela chama a atenção para o perfil das que lograram crescer e conquistar mercados globais nesse período adverso. Capacidade para inovar é o que têm em comum.

Entre essas multinacionais latino-americanas destacam-se grandes estatais ou ex-estatais que tiveram suas áreas de pesquisa e desenvolvimento impulsionada por políticas públicas, como a Embraer e a Petrobras, mas ela destaca também bons exemplos de empresas privadas, como a mexicana Cemex, maior empresa de materiais de construção do mundo, e a rede Globo. “A indústria de entretenimento brasileira foi muito eficiente em conquistar mercados mundiais”.

A crise, segundo Lourdes, está abrindo novas perspectivas de crescimento para essas empresas latino-americanas. Ela lembra que em apenas dois anos, quadruplicou o número de empresas dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) presentes na lista das 500 maiores companhias do mundo e que as vantagens para as empresas de países emergentes cresceram com a crise: das dez que lideram a lista das que mais se capitalizaram no primeiro trimestre deste ano, três são chinesas e uma brasileira, a Petrobras.

O processo de desinvestimento vivido pela maioria das multinacionais dos países centrais, paralisadas pela crise, é uma excelente oportunidade para as empresas latino-americanas capitalizadas crescerem, como fizeram as mexicanas América Móvil e Telmex, do setor de telecomunicações, que fizeram grandes aquisições a preços baixos quando estourou a bolha da internet em 2000. Agora, o grupo chileno Luksic, que tinha vendido o Banco do Chile ao Citi, está recomprando a instituição a preços bem menores.

Mas as oportunidades, segundo Lourdes, não se restringem aos gigantes já estabelecidos. Em alguns setores, pequenas e médias empresas inovadoras de países emergentes conquistaram o mundo a passos acelerados, como é o caso da indústria indiana de serviços de software. Segundo Lourdes, a única coisa que falta ao Brasil para impulsionar esse e outros setores é um bom trabalho de imagem de marca e desenvolver a cooperação entre as empresas para ganharem economia de escala, desenvolverem sinergias e capacidade de crédito.

“Pouca gente sabe que o setor de outsourcing em TI na Índia tem dimensões similares a esse setor brasileiro se levamos em conta apenas o mercado interno. A diferença é que a Índia exporta 80% do que o setor produz e o Brasil só 20%”.

No Brasil, ela vê excelentes oportunidades de internacionalização dos setores de moda, calçados, toda a indústria do entretenimento, serviços financeiros, além de tudo o que gira em torno da energia e economia verde, incluindo produtos da Amazônia. Na sua opinião, a Copa do Mundo é uma excelente oportunidade para trabalhar essa imagem. “A Espanha começou a modernizar sua imagem a partir dos Jogos Olímpicos. O Brasil deve fazer o mesmo porque o país está entre os melhores em muitas áreas e poucos sabem disso”, concluiu.

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